quinta-feira, 15 de julho de 2010


Meu cavaleiro se foi, sem sua presença segura, sem seu escudo e espada, sem sua armadura reluzente eu estou desprotegida.
As feras da noite me atacam.

Elas querem meu corpo, coração e alma.Na escuridão da noite me encurralam em um canto da floresta sombria, meu corpo treme, por causa do medo e do frio que exala dos olhos delas. Não há ninguém pra me defender.
Quando sentem que todas as minhas forças e esperanças se foram, me sufocam pouco a pouco, pouco - a - pouco....

Definhando lentamente, penso que as feras só irão embora quando o dia clarear, e o sol foi embora com ELE.

Enquanto isso, as feras da noite escarnecem meu corpo, dilaceram meu coração, destroem minha alma.

E assim, a metade de mim que ainda está comigo (porque a outra metade se foi com ele) se perde lentamente, le-ta-men-te, entre as garras e presas das feras...

Não acabam logo comigo. Não, sofrimento contínuo causa mais dor, mais medo... Se alimentam da minha tristeza, da minha solidão, querem me desfazer em pedaços, e saborear minha dor aos poucos.

"Acabem logo com isso!" eu grito com o resto de minhas forças, não suportando mais o sofrimento, a solidão, o medo, a tristeza...

No escuro daquela floresta húmida e sombria, vejo dentes abertos num sorriso e olhos jubilantes frente a minha dor.

Sei que no meu último suspiro, quando a angústia e a tortura estiverem a um passo de acabar, me lembrarei do meu cavaleiro de armadura reluzente, que não pode estar perto de mim para me defender.

As feras ainda me devoram.


Volte logo cavaleiro, ou então, quando chegar, sua princesa não vai ser nem a sombra do que foi: do corpo a carcaça, do coração os pedaços, da alma nem vestígios...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Infância em casa de vó.

Brincava com os pés descalços sob a sombra da mangueira, e a grama verdinha, verdinha, fazia cócegas nos meus calcanhares. Tudo era lindo e tranqüilo no meu mundinho infantil. Os morros pareciam gigantes dourados, com seus capins amarelos brilhando sob o sol.
A casa da fazenda era (e ainda é) enorme, paredes brancas, janelões azuis e um coqueiro que brotou bem no meio da casa e minha avó deixou lá por dó. Meu quarto era o mais bonito pra mim, e o mais especial, pois na frente da janela um pé de acerola se debruçava me oferecendo as frutinhas mais vermelhinhas que eu já vi na vida. As salas enormes com armários e estantes cheios de livros foi o que despertou minha imaginação e meu gosto pela leitura, e ao sair pela porta da frente o céu mais azul do mundo me convidava para um mergulho na piscina.
Quando a comida cheirava no fogão à lenha, e a panela de pressão parava de chiar, não bastava muito tempo, para a voz de minha avó chegar aos meus ouvidos avisando que o almoço estava pronto.
Eu ficava com água na boca só de imaginar o que borbulhava nas panelas da minha avó. Eu sei que quando chegasse à cozinha, a primeira coisa que eu iria fazer seria abrir uma por uma (coisa que eu faço até hoje, e que minha avó detesta até hoje também). Torcia para que o prato principal fosse um franguinho caipira, ou um bifão gigantesco que eu nunca conseguia comer, mas mesmo assim ela me deixava colocar no prato. Um arroz bem branquinho e um feijãozinho bem temperado nunca faltavam nas panelas da vovó. E um suco bem gelado de uma fruta recém colhida me esperava na jarra em cima da mesa. Ai! Comida de vó... Àquela hora, meu estômago reclamava de fome, e nem as frutas que eu encontrava pelo pomar conseguiam calá-lo.
Corria, corria, por entre as árvores do pomar, o cheiro das flores das laranjeiras misturava-se ao cheiro da brisa que trazia de longe os barulhos da mata. Perto dali, um pequeno riacho corria manso, e umas vaquinhas pastavam onde eu costumava brincar de safári.
Ao correr desembestada pelo mato, sempre rasgava um braço, ou perdia uma fivela do cabelo. Minha avó ficava fula, e dizia: ”Eu crio uma menina, ou um moleque?”.
Mas não me importavam as broncas, nem as opiniões alheias, principalmente as opiniões dos adultos, que para mim não eram só alheias, como de outro mundo. Mundo esse que não me despertava o menor interesse, porque não tinha as cores, nem o cheiro do meu, nem as emoções e aventuras de brincar de pirata atrás do sofá...
Hoje aquele mundo ficou pra trás, não há mais pés descalços, não sinto mais cócegas, e os morros, meus ex-gingantes dourados, agora não passam de morros oras! Perdi todo meu interesse por histórias de piratas, porque agora o mundo real é meu mundo, gente real é minha gente e não levariam a sério, não no meu mundo, pessoas que saíssem por aí de tapa-olho e espada na mão... Talvez ainda haja um pouco daquela menina-moleca em mim... Minha avó ainda me chama quando o almoço está pronto. Bem, agora eu tenho que ir porque o pique - esconde já vai começar...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Olhos verdes.


Será que vou ver ele? Ai! Que nervoso! Saio de casa sempre, sempre, pensando em seus olhos verdes... Seriam eles verdes mesmo? Bem, pra mim são, não aquele verde sem graça, tipo transparente, mas um verde fundo e escuro, como uma selva que não tem fim. Todas as tardes me pego olhando pra eles, e eles me olhando de volta, então fico vermelha e saio sem olhar pra trás. Nunca ofereci - lhe um sorriso, ou me esforcei pra dizer - lhe "Oi", não sei porque, sempre vou atrás do que quero, mas aqueles olhos... Ah! Aqueles olhos são traiçoeiros, sempre que olho dentro deles eles me aprisionam, me deixam sem ar e fazem meu sangue subir até minhas bochechas.
Mas um dia, ele me surpreendeu com um sorriso, um sorriso! Meu Deus o que eu faço? Me esforcei e sorri também, mas comparado a seus dentes brancos e perfeitos, meu sorriso não vale de nada, é como comparar diamantes à uma bijouteria barata. Então o vejo, dentes bonitos, sorriso genial, olhos verdes (são verdes?), moreno, cabelo tão bonito e escuro, escuro, bem arrumado perto dos meus, quer dizer, dos seus olhos verdes (que ainda não sei se são verdes). Me pergunto: "Sorriu de mim ou pra mim?". Ainda não sei.... Todos os dias tento parecer, pelo menos bonita um pouco, para que um dia, quem sabe, aqueles olhos verdes me enxerguem também.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Minha boca tinha gosto de sangue quando eu saí de casa, às vezes ela tem esse gosto não porque, fui andando em busca da avenida principal, ao sair da sombra não pude conter o espasmo de fechar os olhos diante daquele solzão, mesmo estando de óculos escuros. Tinha que fazer tantas coisas, passar em tantos lugares, ver tanta gente, que nem sabia por onde começar. Respirei fundo e subi a rua em direção ao centro, passei no banco, estava com a conta vazia (mas que surpresa!Minha mãe esquecera de mim de novo) agora não poderia mais ir onde iria antes, nem ver quem eu teria que ver.
E no sol das duas da tarde uma única palavra rondava meus pensamentos: Água!
Desci a avenida em direção ao ponto onde o ônibus passa gratuitamente, quase fui atropelada por um carro, e mais adiante atropelei uma flor que estava no chão, virei o rosto para cima, entanto ver de onde caíra flor tão linda que mais parecia um pedaço de nuvem cor de rosa, me surpreendi ao ver que não só essa flor, mas muitas outras se desprendiam dessa árvore enorme, porém, maior foi a minha surpresa, ao observar que a árvore ficava perdida no meio da cidade, num lugar onde eu nunca havia passado antes.
Em fração de segundos me senti como uma exploradora que acaba de descobrir um paraíso selvagem, uma terra desconhecida. Então a buzina de um carro me assustou, como se dissesse: "Helloo, você ainda está na cidade grande!". Resolvi sentar - me um pouquinho, ali mesmo sobre as folhas secas, o ar estava pesado e eu gripada, isso me deixou muito cansada. Sentada ali pude reparar melhor na natureza que mora em meio a selva de prédios e casas, a cidade é cinza, mas não é morta. Dali vi o lago e outras árvores também carregadas de flores... Tudo era tão lindo, pena que eu tinha que ir . Levantei - me e peguei uma flor para me lembrar do momento magico que eu vivenciei. Uma ventania soprou e arrancou o pequeno botão da minha mão. Ouvi o vento dizer: "Não faça isso, não leve lembrança alguma, vá e não olhe para trás, talvez nos veremos de novo..."

Espero poder reencontrar, a mesma flor, a mesma árvore, as mesmas folhas e o mesmo vento, mas não espero reencontrar a mesma Miranda, quero deixar de lado o que sou, e tentar melhorar, quero que a minha falta de espírito vá embora, assim como o vento varreu a flor da minha mão...

domingo, 16 de agosto de 2009

Take me away...


Alguém, por favor, pode me levar daqui? Não penso em outra forma de me livrar desse sofrimento que é viver (e conviver) com uma sociedade que não pensa (e talvez nunca tenha pensado) nas consequências de suas ações, até de seus pensamentos, sim! Porque pensar é o concebimento da ação.
Sabe? Mesmo que daqui a alguns anos meus olhos não vejam mais, ou meus ouvidos não escute, mesmo se da minha boca não saírem sequer meros murmúrios de uma consciência insana pela idade; mesmo assim, enquanto eu tiver uma mente perfeitamente pensante eu pensarei. Pensarei uma, duas, três, dez, cinco mil vezes antes de emitir qualquer opinião, sobre qualquer assunto, ou antes de agir por puro impulso ou capricho como fazia antes. Antes de que? Antes de passar pelo que passei, perder o que perdi:
Ele: brigou, não me deu atenção, só por causa da minha blusa...
Eu: achei ruim, me vinguei, briguei, cheguei em casa, chorei.
Não digo NUNCA, mas a partir de hoje vou pensar muitas vezes antes de fazer qualquer coisa, aconselho a quem lê que faça o mesmo... Hoje já cometi um erro: por impulso comi todas as bolachas do pacote...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Endereço: Lugar Nenhum


Sabe quando você quer ir pra um lugar onde ninguém te perturbe, nem por Internet, nem por telefone ou sinal de fumaça? Pois é... EU NÃO QUERIA IR!!! Por que eu Deus! A pessoa que mais detesta falta de civilização no mundo... Então... Essa é a minha justificativa por ter passado tanto tempo sem postar... Desculpa a vocês e ao mundo que ficou esse tempo todo sem minha presença. Desculpa a uma amiga, eu não estava localizável num momento que eu acho que deveria ter estado presente.
Tanta coisa aconteceu, mudou, se reciclou, tanta gente que não voltou das férias, que não voltou pra minha vida... Mas agora EU voltei... Estou aqui, e se tudo der certo, continuarei. Prometo deixar de frequentar Lugar Nenhum....



Babi, te amo, saudades...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Delíro de uma noite de Febrão.


Estava difícil manter os olhos abertos, após um dia inteiro lutando contra uma febre que não cessava eu resolvi desistir da batalha, deixei que o calor febril tomasse conta do meu corpo - e que calor! - fui amolecendo, amolecendo... Acho que dormi por 15 minutos. Quando abri meus olhos de novo o mundo todo era um borrão, não havia mais meu quarto, nem minha cama, eu estava em um uma outra dimensão, era tudo tão branco e desfocado, tudo que eu consegui distinguir foi a forma que entrou em meu quarto e parou ao lado da minha cama, passou a mão em meu rosto, depois em meu cabelo, só pude ver seus olhos, que olhando fundo nos meus perguntou: "Você tá bem coração?". Não me lembro o que respondi, nem se respondi. O fato é que sua presença tirou um pouco do medo que eu tinha de morrer. Colocou minha cabeça sobre seu colo e pediu que eu dormisse, relaxasse e não pensasse em nada. Dormi por mais alguns minutos e acordei com um calor estonteante que me sufocava como uma jibóia em volta do meu pescoço, tudo fervia dentro de mim, não aguentei, corri ao banheiro e fiquei lá quase toda a noite, a pessoa não soltou minha mão, aquilo me confortava. Depois que as ânsias passaram eu voltei para a cama, ele pediu que eu tirasse as meias e minha blusa de frio, porque assim o calor exalaria eu poderia me ver livre daquele incomodo, fraca nem pensei somente obedeci. Realmente melhorei, e agora podia ver, além de seus olhos sinceros, seu sorrisão franco e aberto, tocou de leve meu rosto, segurou minha mão e me colocou pra dormir.
Acordei no outro dia, com a luz do sol entrando pela minha janela, não havia sinais de que alguém havia estado lá do meu lado. Não havia sua presença, nem seu sorriso, nem seu olhar compadecido, nem seu toque carinhoso. Sei que tudo não passou de um delírio febril, pois você está a 400 longos quilômetros de mim. Uma coisa eu posso dizer que não foi sonho, ou surreal, realmente senti você ao meu lado. Senti sua presença, sinto sua falta. Carpe Diem.